1º Encontro Nocturno
de Boulder de Sintra
Peninha, 6/7 de Setembro de 2003
Organização: Vertical / GMES
E assim se passou uma noite na Serra de Sintra. Nem o frio nem o nevoeiro
do início da noite demoveram os mais curiosos de se deslocar
ao Monte da Lua para participar num dos eventos mais interessantes
do ano no panorama da escalada em Portugal.
Depois de uma longa semana de preparação e de um sábado
dedicado à limpeza dos locais de escalada (o que também
não foi tarefa fácil), por volta das nove horas da noite
conseguimos ter tudo praticamente pronto para a tão esperada
noite.
Com o cair
da noite os primeiros participantes começaram a chegar - Sónia
e Schiappa foram os primeiros a formalizar as inscrições.
A partir das nove e trinta os participantes chegavam regularmente
e o parque de estacionamento começava a ficar pequeno... Se
bem me recordo a ultima inscrição foi a do Carlos Pereira,
já passava bem das onze horas.
Pela primeira vez, e devido ao grande empenho da Vertical e dos nossos
patrocinadores, surpreendemos os participantes com a quantidade de
equipamento que tínhamos disponível para ser emprestado
e testado in loco, para além da lindíssima T-shirt oferecida
no acto da inscrição. Os Crash pads da Beal foram uma
excelente ajuda e cumpriram a sua função, protegendo
os mais destemidos, e as iluminações frontais da Petzl
estavam disponíveis, a preços bastante apetitosos, para
os mais desprevenidos. Para admiração de muitos, também
aproveitámos a oportunidade para mostrar os novíssimos
pés de gato da Salomon.
A partir daí os dados estavam lançados: pegámos
nos nossos crash pads e nos pés de gato, que nos foram gentilmente
oferecidos pela Salomon, e fizemo-nos ao caminho...
Em primeiro lugar dirigimo-nos ao sector do 'tobogan' e ficámos
surpreendidos com a motivação com que as pessoas escalavam
e conviviam, sem preconceitos nem vedetismos. Depois de algumas experiências,
umas melhor sucedidas que outras, no 'Com Tacto' tivemos que nos despedir
do pára-quedista (coitado! tinha que trabalhar as seis da manhã,
já era meia noite e meia e ainda andava a fazer bloco na Serra
de Sintra).
E assim foi... siga prá frente... direitos ao 'Sol Invictus'.
Para além de ser uma linha bastante engraçada, este
bloco chamou-me a atenção principalmente por ser o nome
de um projecto musical britânico que muito aprecio (http://www.tursa.com),
e por ali ficámos um bocado, juntamente com outros escaladores
que já estavam a tentar resolvê-lo. Mais dois dedos de
conversa, mais um bocado de galhofa... e partimos para outra.
Em jeito de descanso parámos no 'Massa Expansiva', não
que estivéssemos com vontade de o experimentar, mas por lá
ficámos um bocado a ver o Francisco, o Léu e o André
a tentar resolver um problema de se lhe tirar o chapéu. Dez
minutos bem passados!
Pela graça acabámos por parar um bocado no 'Boomerang'.
Umas quantas tentativas, uns saltos para o crash pad e pronto... lá
chegou o André para atrofiar o pessoal... ele resolveu e nós
pensámos "vamos para um mais duro que aqui é só
frouxos"...
O Tiago tinha decidido que não se ia embora sem fazer umas
tentativas no ainda por resolver 'Pica-Pau'. Aceitámos o desafio
e lá fomos curtir um bocadinho para esse sector. Mais uma vez,
lá encontrámos uma molhada de pessoal numa labuta quase
de formiguinha no 'Travesseiro'... puxa, puxa, pau! Lá está
ele no crash pad a rir à gargalhada. Quanto ao 'Pica-Pau',
claro está que pouco depois já estávamos a desistir
daquela brutalidade e a dirigir-nos para as 'Pedras Irmãs'.
Aí sim... aí é que tudo se estava a passar. Devido
à grande quantidade de blocos disponíveis de variadíssimas
dificuldades, estava minadinho a toda a volta - parecia o Rossio às
seis da tarde!
Após
algumas trocas de impressões com os transeuntes pareceu-nos
que o pessoal já estava mesmo era a espera da sopa. Mas nós
nada! Como se de nada soubéssemos, ainda por ali andámos
um bocado... Eu pessoalmente encostei-me a uma árvore, como
diz o José Maria, em 'screen saver' a observar o Fred, o Léu
e o André já com as mãos em sangue a darem tralhos
sucessivos na 'Kalashnikov'. O que devo dizer que foi um bonito momento
de cultura.
E pronto! Já eram praticamente duas da manhã e decidimos
fazer o caminho de volta para ir buscar os carros e a tão esperada
sopa.
E que surpresa nessa meia volta quando damos de caras com a Laura
e com o João Neves! Apesar do cansaço bem visível
na cara de ambos, tiveram a amabilidade de aparecer no local àquela
hora da noite, deixando claro o seu empenho em apoiar estas iniciativas
e em aceitar a nossa colaboração na promoção
das marcas importadas pela Submate.
Mais um bocadinho de conversa... mas pouca, que o tempo urge e o corpo,
apesar da temperatura amena, já pede um caldo verde quentinho.
E assim foi... Fomos buscar a sopa!
De volta ao 'acampamento-base'... abrimos a panela da sopa da 'Tininha'
(a minha adorada sogra... ;) ) e começámos a distribuir
este néctar dos deuses pelos participantes, que não
pararam de lançar piropos a tal iguaria... mas, pelo que mais
tarde viemos a saber, o chouriço era salgado ... sim, mais
tarde! porque nem eu nem o zm tocamos na chicha!!! Com aquela cambada
de lambões... pior que isso... tivemos de dar sopa (não
é 'dar sopa') aos comilões da FPC.... urgh!
E pronto, já só faltava agradecer aos participantes
o empenho e o entusiasmo e sortear umas lembranças dos nossos
patrocinadores...
Mais uma vez a Laura foi chamada a pedra, mas desta vez para tirar
os números dos participantes que iriam receber os tão
apetecidos prémios.
Dois sacos de magnésio, três iluminações
Petzl e um arnês Petzl fizeram a delícia de seis participantes
que nos apoiaram neste tão gratificante evento.
Ficou no ar a possibilidade de se reunirem condições
para mais um evento desta natureza... vamos ver, o tempo o dirá!
Mas uma coisa é certa: a Vertical e o GMES vão continuar
esta batalha de promoção e divulgação
das actividades de escalada... a próxima já tem data
marcada... 4 de Outubro... em Sintra... o que será? More news
in due time…
Obrigado a todos... mesmo aos que não apareceram.
Rui Carvalheira / Vertical |
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Viagem
ao reino das trevas
Se Sintra durante o dia é um lugar
encantador e cheio de magia, quando mergulha na escuridão
e se envolve no habitual manto de brumas, torna-se um mundo místico
e iniciático.
Foi
neste ambiente inspirador que decorreu o Primeiro Encontro Nocturno
de Boulder de Sintra. Quem se empenhou na limpeza do local sabe
bem o quanto ele é procurado para a realização
de rituais pagãos ou mesmo de feitiçaria. A mim coube-me
a grata tarefa de transportar o caldeirão da sopa que seria
servida no final da actividade. Dirigi-me para o local pelo lado
da Lagoa Azul, com cuidado redobrado para não deixar entornar
o caldo verde. Fui penetrando naquele reino onde a névoa
se ia adensando à medida que ganhava altura e me aproximava
da Peninha, o local do encontro.
Ao chegar ao local, tal como muitos dos participantes,
fui surpreendido por uma escuridão com que não contava.
Estamos tão habituados ao ruído das luzes
que nos parece estranho que ele não exista na natureza. Quem
esperasse encontrar grandes projectores a iluminar os blocos ou
mesmo o ponto de partida deve ter pensado “grande banhada
q’uisto vai ser!”. Saberiam mais tarde que se tinham
enganado.
No
acto da inscrição os participantes recebiam uma T-shirt
da Petzl (apenas para os 30 primeiros) e um topo dos blocos da área.
Depois restava seguir a pista dos Snap lights suspensos
nas árvores, de bloco em bloco até à sopa final.
Além destas ténues luzinhas, eram facilmente distinguíveis
os hot spots, iluminados por conjuntos de frontais, onde
se concentravam os pequenos grupos de escaladores que povoavam o
local. A Submate, o principal patrocinador do evento, forneceu Crash
Pads e lanternas frontais que foram sendo emprestados à
medida das necessidades. Quando as inscrições fecharam,
a própria organização diluiu-se entre os participantes
para poder também aproveitar a ocasião.
Devido ao elevado nível de humidade,
as árvores choravam sobre as nossas cabeças. Para
muitos foi um verdadeiro baptismo de bloco. Fomos experimentando
alguns problemas, resolvendo outros, vendo outros tentar ou resolver
problemas sem fim. Em cada zona encontrávamos uma mancha
de pequenas luzes amarradas às cabeças, como candeias
na escuridão. Víamos o mundo na forma do cone de luz
que produzia cada frontal. De repente encontrávamos alguém
conhecido, pela voz ou porque um clarão em movimento tinha
revelado o rosto no meio do breu. Só quem se irmanou naquele
estranho ritual compreende em absoluto do que falo.
Lá para a meia-noite fomos visitados
pelo exército. Embora circulassem relatos de encontros de
tom agressivo com outros militares no mesmo local, desta vez foram
bastante simpáticos e chegaram mesmo a oferecer os seus préstimos
caso fossem necessários.
Aproximava-se
a hora da distribuição da sopa quentinha pela qual
já muitos ansiavam. Voltámos ao local de partida,
desmontámos o que lá tinha ficado e transportámos
a sopa até às Pedras Irmãs, onde seria distribuída.
Neste local, parecia que os escaladores se tinham multiplicado.
De facto, além de se terem concentrado quase todos naquela
área, havia lá muitos que não se tinham inscrito
e por isso não havíamos visto antes. A multidão
era surpreendente.
Até a Kalashnikov estava ocupada (pelo
André Neres, o Leo, o Francisco Ataíde, o Fred, etc).
Desembrulhou-se finalmente o caldeirão
da sopa, um requintado e apurado caldo verde, cozinhado pela D.
Tininha (sogra do Carvalheira), servido em copo de plástico,
com preciosas rodelinhas de chouriço a navegar. Talvez por
estar bastante frio, esta poção foi unanimemente apreciada.
No final, já com o estômago mais
reconfortado, passou-se à distribuição dos
prémios oferecidos pela Submate e que constavam do seguinte:
1. Arnês Petzl - Hirundo (Tamanho M)
2. Iluminação Petzl - MYO 3 LED
3. Iluminação Petzl - Tikka Plus
4. Iluminação Petzl - MYO
5. Saco de Magnésio Beal - Monster Cocoon
6. Saco de Magnésio Petzl - Codalix
Foi a própria Laura Neves (da Submate)
quem abrilhantou o sorteio, retirando as senhas com os números
de inscrição de dentro do 5º prémio.
Terminada a actividade, os escaladores foram
abandonando o local, deixando no ar a vontade de participar no próximo.
Para a organização foi como se ouvíssemos um
estrondoso aplauso. Obrigado por terem ido. Obrigado por terem gostado.
A nós restava-nos recolher as luzinhas
e desmontar tudo o mais. Fomos ficando mais sozinhos, novamente
envoltos em escuridão e frio.
Baixou o pano sobre a Serra e nós partimos,
devolvendo-a à magia do luar e à tranquilidade da
sua energia.
ZM / GMES
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